Vedānta está na moda? - Gustavo Cunha

Nesses últimos dias interroguei-me se alguma vez o Vedānta gozará de uma procura e de um "estatuto" semelhante ao Yoga em Portugal, e no mundo. Há vinte anos atrás o Yoga era praticamente desconhecido em terras lusas e hoje proliferam escolas de vários estilos de Yoga e adaptações contemporâneas como "Acqua Yoga", "Yogilates", "Yoga para grávidas", "Yoga para crianças" e "Yoga para a Terceira Idade", entre outras, sendo raro um ginásio ou academia de fitness não oferecer aulas de Yoga de entre as suas modalidades.

O mais peculiar é que muitas pessoas buscam no Yoga aquilo que o Vedānta oferece, o autoconhecimento, o que não é de estranhar porque Vedānta é Jñāna Yoga (Jñāna = conhecimento).

Sabemos que no Ocidente o Yoga é visto, muitas vezes, através de uma ótica distorcida devido à falta de informação ou à confusão generalizada provocada pelo aproveitamento de benefícios específicos em detrimento da sua proposta total. Assim, olha-se para o Yoga como um tipo de ginástica contorcionista oriental, meio espiritualizado e estranho, e os seus praticantes são tidos como seres algo esotéricos, com uma particular inclinação pelo uso de incenso aromático ou óleos essenciais, dotados de um gosto difícil de entender por tofu, conhecedores dos misteriosos cakras e, certamente, praticantes do sexo tântrico, que entoam sons místicos quando estão sentados e estáticos de olhos fechados em estados meditativos - algo que já alguém apelidou de "seita do Om".

Conversando com alguém que nunca tenha estado numa aula de Yoga ou que pratique Yoga num centro onde confluem práticas como reiki, cura prânica, leitura da aura, regressão, xamanismo ou "terapias alternativas" - e muito é fácil, hoje em dia, criar uma terapia nova, basta pegar num substantivo suficientemente atrativo e acrescentar o sufixo ou prefixo terapia. Não acredita? Vamos a isto: vinoterapia, chocolateterapia, arteterapia, terapia floral, etc - para se perceber que o interesse pelo Yoga existe e que essa palavra quase já faz parte do nosso léxico mas, na verdade, ninguém sabe muito bem o que é, como se faz, de onde vem, a quem se destina e qual o seu propósito.

Nos antigos textos sagrados da Índia o Yoga é referido como uma prática espiritual em que o indivíduo orienta a sua vida de acordo com um conjunto de valores éticos, como a verdade, honestidade, humildade, etc, que conduzem a ações meritórias rumo ao entendimento de si como pleno e não diferente em essência do outro, nem do Absoluto. Karma Yoga, Bhakti Yoga, Upāsanā Yoga e Jñāna Yoga são o Yoga visto sobre diferentes perspectivas mas sempre intrinsecamente ligados.

Note-se que interesse pelo Yoga e pela Índia não é de agora. A História revela que a Índia foi sempre um ponto de convergência. Os portugueses chegaram à Ìndia à mais de quinhentos anos e, naquela altura, buscavam, nas palavras de Vasco da Gama, "cristãos e especiarias".

No século XX, os ocidentais começam a procurar em massa o Yoga no seu país de origem, e, a sua popularidade deve-se à influência New Age, às viagens dos Beatles - nos seus tempos áureos - pelos āśrams indianos, o movimento Goa Trance e psicadelismo, às referências nos filmes norte americanos (a lista é demasiado extensa para referir) e restantes media.

Svāmi Dayānanda diz que se algum aspeto positivo decorreu por a Índia ter pertencido ao Império Britânico foi o facto de o Inglês se ter tornado numa língua oficial e falada pelos svāmis que assim passaram a mensagem dos Vedas, originalmente transmitida em Sânscrito, para o mundo. Convém recordar que foi Svāmi Vivekānanda, conhecido especialista em Vedānta, que em 1893, introduziu o tema no Parlamento das Religiões que teve lugar em Chicago, EUA.

Então, se o Yoga ainda não é claramente compreendido como fazer com que o Vedānta o seja?

A "salada" de terapias, coachings, medicinas alternativas, filosofias, teorias e profecias apocalípticas, messias e religiões é tão vasta que o melhor que podemos fazer é chamar as coisas pelos nomes:

- Vedānta é um pramāṇa, um meio de conhecimento. É, sem dúvida, apelativo a qualquer ser humano pois o objeto de estudo é o Eu e quando explanado por um professor qualificado a alguém realmente interessado e com as qualificações necessárias revela a real natureza do sujeito, o Ser, a relação entre o indivíduo e o Todo e elimina as noções equivocadas que a pessoa tem em relação a si mesma. Por conseguinte, a pessoa vê-se como a própria plenitude, ilimitada, fonte de toda a felicidade, e, ao perceber o não distanciamento do Todo, termina o sentimento de limitação e isolamento, e põe um "ponto final" no seu sofrimento.

Para saber se Vedānta estará cada vez mais em voga bastará prestar atenção ao cinema e às revistas sociais. O que me satisfaz é saber é que, aos poucos, um "pequeno" grupo de pessoas conscientes da sua importância estão interessadas em aprender e passar adiante o ensinamento contido nas escrituras milenares da Índia. Esse grupo já nem é assim tão pequeno como Glória Arieira, professora de Vedānta à mais de trinta anos, referiu numa entrevista no ano passado: "Tenho tido uma aula por semana, ao longo de muitos anos. Cada turma tem, sei lá, 10, 8, 20, 25 pessoas ao longo de 30 anos, entre pessoas que vêm, que ficaram, que foram e voltaram... é bastante gente."

Como diz a Upaniṣad:

"Que sejamos levados (pelo conhecimento) do irreal para o real; da escuridão (da ignorância) para a luz (do conhecimento); da morte (sentido de limitação) para a imortalidade (a libertação). Que haja paz, paz, paz.”

Namaste

Dia 29 de Abril, pelas 21h30, inicia um novo grupo de estudos de Vedanta em Portugal, no espaço PazPazes - Porto. Mais informações em www.yogavaidika.com/2010/04/novo-grupo-de-estudos-de-vedanta.html.

Imagem de topo propriedade de Himalayan Academy, usada sob licença Creative Commons.

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